Acredito que a década de 1970 tenha sido o grande auge dos balões aqui no Brasil.
Lembro-me, ainda garoto, na Copa do Mundo de 70 o céu era tomado por balões de todos os tipos e tamanhos.
Naquela época existia o Clube dos Balões, que se reunia no Clube Caeté - no bairro do Méier. Lá se reuniam os grandes baloeiros.
Dessa época até a década de 1980, as pessoas organizaram-se em turmas. Lembro-me que no bairro em que morava, em Bento Ribeiro, contabilizava-se mais de 20 turmas de baloeiros. Nesse momento, os balões começaram a aumentar de tamanho. Viam-se inúmeras armações no alto além, é claro, dos problemas: muitos balões no subúrbio estouravam. Presenciei em Madureira, Quintino, Bangu. Eram balões que não tinham reforço (cintas), buchas muito grandes e peso excessivo.
Lembro-me de uma época em que estava atrás de balões e caiu um balão na Sulacap. A estrutura da armação era de bambu. Não de caniço, mas sim de bambu, e o peso derrubou o meu irmão - um homem adulto, pesado e alto. O balão estava rasgado, da boca até quase o meio. O fogo que consumiu o balão tinha uma chama que alcançava a altura de dois metros.
Para dar uma dimensão do tamanho do bambu, cito que o levei para casa e coloquei no varal.
A partir disso, começamos a conhecer que existia um baloeiro chamado Américo que cintava os balões. Começamos, então, eu e os demais baloeiros, a cintar os balões.
Depois dos balões fechados na mesa, começamos a colocar os barbantes na horizontal e, de meia em meia folha ou de folha em folha, em todos os gomos dos balões. Na época, cortávamos fitas (cintas) no mesmo papel do balão e passávamos cola com rolinho de pintar rodapé, ou fazíamos uma “trapizonga” (aplicador de cola o qual na sua extremidade existia um rolinho de espuma). Hoje cintamos tudo com durex, de preferência incolor, pouco usado por ser mais caro.
O tempo foi passando e as coisas foram mudando. Hoje, desenhamos a decoração em alguns casos são recortadas ou aplicadas. Depois do balão pronto, (lembra do leque que lhe enviei?) vamos cinta-lo com o durex. Hoje, já colocamos cinta em distâncias menores e utilizamos um barbante, que aqui apelidamos de “fio-dental”. Esse material é um fio sintético utilizado aqui no Brasil na costura de coletes. Dizem que é importado, não sei de que país.
No passado, utilizávamos um barbante chamado rami, extraído de uma planta, muito utilizado em costuras de sapatos. Ontem estava colando essa ilama de 240 bicos, colocando os barbantes.
É importante vocês saberem como nós confeccionamos. Sobrepomos um gomo sobre o outro e deixamos um espaço de 1 cm, de um gomo para o outro. Passo primeiro cola no gomo de cima, bem próximo ao outro de baixo, repouso o barbante e aí sim, passo a cola no gomo de baixo e com o dedo espalho a cola.
Aí depois eu fecho.
No passado, ao encher os balões, reparava que muitos dos barbantes estavam do lado de fora, e não colado nos papéis. Hoje já não encontramos isto.
Ao fazer esta ilama de agora, estou colando os barbantes em todos os gomos. Reparo que lembra uma estrutura metálica, pois posso puxar os bicos e não vai rasgar, pois todos os bicos estão presos uns aos outros. É bom lembrar que ao colar o primeiro gomo ele tem que estar fixado na mesa com fitas para não correr. Também é bom lembrar que devemos colocar um prego na mesa, na parte do bico e na parte maior (que é o meio), se for fazer em duas metades.
Esticaremos o barbante preso aos pregos, deixando um pouquinho frouxo, depois é só colarmos na bainha. Hoje, tanto as bainhas como as colagens dos gomos, devemos gabaritar o tamanho para não dar diferença no molde. Ou por meio de grampeador ou através de uma régua ou medidor, para que o molde não altere o seu perfil.
No caso das decorações, é bom lembrar que devemos sempre deixar um espaço de 0,5 a 1 cm, para não alterar o molde.
RESPIROS E BUCHAS
Tive alguns dissabores a respeito disso. É bom lembrar que se o balão, por algum motivo abafar, retire logo a bucha. Não devemos prosseguir, pois, nesse caso, teremos alguns problemas. Ele subirá e cairá a seguir.
Formas de bucha:
1. Velas - não devemos utilizar nas buchas, velas reaproveitadas de igrejas e outras, pois a fumaça é preta e não dá muita pressão ao balão.
2. Buchas de querosene ou similares – a pressão é imediata, no caso, além de soltar uma fumaça muito preta, dificulta o controle do balão, pois a pressão imediata não o permite. No passado, nas décadas de 1970 e 1980, eram muito utilizadas e eu mesmo utilizei muitas vezes, mas muitos balões meus pegaram fogo. Eu até aprendi que depois de colocar o querosene devia colocar 1 litro de álcool, pois isso diminuía a pressão e nos dava a possibilidade de guiar o balão mais facilmente.
3. Álcool – álcool anídrico – neste caso, hoje ainda encontramos algumas pessoas antigas (Ivo Patrocínio, eu e outros) que gostam de soltar com álcool. O álcool anídrico é retirado a água e temos ali o álcool puro. Os balões ficam transparentes, tais como o balão dado, montgolfier e outros, ficam belos no ar, uma vez que a chama fica um pouco azulada.
4. Breu – não é utilizado nas buchas atuais e muita gente desconhece. Nas décadas de 1960 e 1970 ele era o auge dos balões. O breu é encontrado em lojas que vendem produtos para lustrar móveis e era feito da seguinte forma: pegava o breu, empastava no algodão utilizado na bucha. Utilizava-se debaixo da boca uma lata de goiabada vazia para colher os pingos que caiam da bucha. Eu mesmo já utilizei o breu nas buchas em algumas épocas. A chama fica um pouco azulada. O balão fica igual a uma lamparina, deixando uma bela luminosidade.
5. Sebo – foi muito utilizado nas épocas de 1980 e 1990 – é retirado da carne de boi, a gordura é amarela e o sebo é branco. Na época, colocava água ao derreter, a carne desce, a gordura fica no meio e o sebo fica em cima esbranquiçado. Naquela época utilizei muito nos meus balões e ainda hoje utilizo nos balões estrela, por exemplo. A sua queima é vagarosa o que nos facilitava muito para trabalharmos nas guias, só que pela necessidade de colocar pesos nos balões, optou-se pela parafina. No caso do sebo, usamos sebo de boi e o de carneiro, hoje vendido aqui no Rio de Janeiro em loja de material de construção para passar nos serrotes. Sua queima é muito vagarosa existe a necessidade do oxigênio. A boca do balão tem que ter uma altura muito pequena, aproximadamente um palmo, para que o oxigênio alimente o fogo. Se fizermos a boca muito alta ela poderá não ter fogo para alimentar o balão. Demora muito a queimar. É utilizada em balões tipo disco (chatos), estrelas, recortes e etc.
6. Estearina – seria a primeira linha da parafina e eu a utilizei muito em balões pequenos, com pesos excessivos. É muito inflamável, não faz fumaça preta e dá muita pressão. Como citei, ainda há pouco, é indicada para balões pequenos que levam muito peso. Mas não se esqueça use com moderação.
7. Parafina – hoje é o grande vilão das buchas usadas no Rio de Janeiro. São 100 % utilizadas pelos baloeiros.
COMO FAZER AS BUCHAS:
É essencial banhar a bucha acima de 110 °C. Aprendi que a parafina é um produto químico e por isso tem um banho estipulado. Tem que tomar cuidado ao derretê-la para que possamos observar o grau correto. Eu aqui utilizo um método prático que é jogar um pouco de água dentro da lata, no exato momento irá borbulhar parecendo que o fundo da lata vai soltar.
É bom observar que quando a fumaça preencher toda a lata teremos que diminuir o fogo, pois ela estará acima de 160°C, chegando talvez a 180°C. Neste ponto, ela estará inflamável.
Eu costumo fazer, para balões pequenos, rolos de aproximadamente 30 cm pegando o papel toalha e forrando com o algodão. Quando é para balões que carregarão peso, costumo ralar a estearina e fechar o rolo. Depois dos rolos prontos vou mergulhar na parafina, com a temperatura de 110°C. Nessa temperatura, a bucha não pinga. Não sei se você observou que eu fecho a boca do balão Sputnik e outros.
Outra maneira de molhar a bucha é fazermos uma mesa com chapa e com ligeiro declive com caída em chapa. A chapa metálica é fria e nos possibilita tirar o resíduo que ali ficará. Depois mandarei fotos.
Costumo colocar as mantas de algodão nas chapas com uma lata pequena vou jogando a parafina por cima da manta. Aqui no Rio algumas pessoas costumam molhar o algodão com um pincel.
É interessante lembrar que, com rolo de pastel ou um rolo feito com tubo de PVC, retiraremos o excesso. Só temos que tomar cuidado para não tirar toda a parafina. Então enrolamos o algodão ainda quente, formando os rolos de bucha. Uma manta ou mais para formarmos os rolos.
Dependendo do tipo do balão ou do tamanho da mesa da bucha, cortaremos os rolos do tamanho das mesas.
MONTAGEM DAS BUCHAS E CUIDADOS QUE DEVEMOS TOMAR
Os rolos têm que ter um espaçamento entre eles, para que o oxigênio alimente o fogo.
Devemos tomar cuidados em buchas largas, estas deixam o calor muito forte concentrado na boca, acontecendo da boca cair. Chega a cozinhar o papel e o barbante. Pouco visto hoje, mas, no passado, acontecia muito.
É fundamental entendermos sobre altura e largura dos roletes. Eu gosto das buchas montadas do tipo pirâmide, principalmente, para balões pião, careca e montgolfier. Acredito que o fogo fica mais centralizado e é fundamental acendermos a bucha de cima para baixo.
Temos que tomar cuidado com as bocas muito baixas, pois o fogo, muitas vezes, é jogado para fora, como já presenciei.
ONDE DEVEMOS COLOCAR OS RESPIROS DOS BALÕES
A acendermos a bucha, o monóxido de carbono subirá e baterá no teto e ele vai se expandir, automaticamente, para baixo. E é o no meio que ele se expandirá, pois é a área maior dentro do balão. Então, automaticamente, descerá. Concluímos daí, que não devemos colocar respiros (furos) no meio do balão, pois ele perderá pressão.
Também não devemos colocar próximo à boca, pois se seguramos na guia e houver um vento, o papel entrará junto ao fogo, como já presenciei, além de queimar mais a bucha.
A partir desse estudo, o local ideal é uma folha e meia abaixo do meio e uma folha e meia acima da bucha.
Fica aí mais ou menos explicado.
Nos estudos para balões horizontais do tipo Zeppelin, baseando nos estudos de Santos Dumont, os respiros ficam nos bicos. Coloco um tubo nos bicos para o ar sair. Hoje, no Rio, os nossos balões os bicos não são fechados principalmente os balões pequenos. Reparo que o fogo fica centralizado. Fica reto tal como nas lamparinas. Não há estudo sobre isso, somente observações. Já tentei colocar muito peso num balão pequeno, com bico aberto, e ele subiu naturalmente levando o peso.
A história que eu sei de um balão de 24 metros, de papel de seda, subiu no estado de São Paulo e caiu no estado do Rio de Janeiro, com a bucha apagada. Só com o primeiro rolete chamuscado de fogo. Acredito que esse balão entrou numa altitude onde o oxigênio era pouco, por isso que a bucha apagou. Acredito, sim, nos bicos abertos dos balões.
COMO COLOCAR OS RESPIROS NOS BALÕES
Utilizando essa regra comentada acima, eu costumo utilizar dois tipos de vazadores, encontrados em lojas de couro. Um de um tamanho maior e um menor.
Furamos o balão com o menor, um do lado direito e um do lado esquerdo, na proporção que citamos ainda há pouco. Depois, recorto com o maior um papel do tipo cartolina e colo no furo menor. Ficará um reforço.
Todas essas dicas que estou lhe passando, fazem a diferença na elaboração dos balões.
COLOCAÇÃO DAS BOCAS
Amigos, hoje não mais reforçamos as bocas como eram antigamente. Na época achávamos que as bocas tinham que levar reforços, colocávamos jornais, papéis grossos, entretelas, tipo gaze que se usa para colocar gesso, couro, tudo bobagem. Só ajudava a rasgar mais a boca. O tempo foi passando e nos mostrando o contrário.
Nas primeiras bocas eram colocadas cordas ao invés do arame e depois fixávamos no aro com ajuda de arames. Hoje, colocamos durex e, nos gomos, colocamos anéis, argolas de arame – de preferência soldadas. Nos menores, utilizamos argolas plásticas, encontradas nas lojas de venda de material elétrico.
O mundo passo e tenho aprendido muito! Já fazemos o aro com uma prévia da boca, parece que cortamos a boca no meio. Facilita-nos muito a fixação dessa metade da boca na bucha.
Olá, tudo bem?
ResponderEliminarMuito bacana esse material. Li tudo e foi gostoso relembrar muita coisa que passei com a arte dos babões! Sou um baloeiro modesto de São Paulo, que parei com a arte há anos por causa da proibição e recentemente, voltei a fazer alguns pequenos balões juninos apenas para me divertir sem correr riscos.
Lendo muita coisa atualmente, vejo que estou desatualizado. Cinta com durex e outras coisas, que inclusive li em outros espaços, foi engraçado perceber como o tempo passou, parei com balões por volta de 1998 e de lá pra cá, muita coisa mudou.
Eu cheguei a usar nas buchas de balão parafina com breu derretido, mergulhando um pedaço de estopa. O breu abandonei há anos, já lá no começo dos anos 80; em balões recentes, em pequenos caixas e almofadas de 8 folhas, para experimentar, usei caixa de ovo e papel higiênico. A caixa de ovo odiei, não achei que o material sustenta bem o balão no ar. O papel higiênico foi um pouco melhor, mas também achei a durabilidade bem ruim, o balão perde força e cai rápido.
A velha e boa estopa eu achava perfeita para as buchas. Meus balões sumiam, caiam apagado e capturei muito balão apagado cuja bucha foi feita com estopa porque naquela época, é o que usavam; minha dúvida é, realmente é tão ruim assim a estopa? O que li em vários materiais é que dizem que a estopa o balão cai mantendo o braseiro, achei essa informação estranha.
Minha intenção é fazer buchas usando apenas parafina, na sua opinião e como eu, anos de conhecimento, o que me diria sobre suas experiências anteriores e atuais do material melhor a ser empregado? Algodão, papel toalha, cortes de saco de estopa... poderia me dar uma ajuda nisso?
Abs!